Saúde dos oceanos está
crítica
Novo indicador
sobre áreas costeiras de 171 países dá nota média 60, em 100, para a capacidade
de prover serviços e manter a biodiversidade
15 de agosto de 2012 | 22h 30
Giovana Girardi
Um grupo internacional de
pesquisadores aliado a algumas das principais organizações ambientais do mundo
divulgou nesta quarta-feira, 15, o primeiro indicador sobre a saúde dos
oceanos. O resultado mostrou que a capacidade de fornecer benefícios aos seres
humanos e ao mesmo tempo manter a qualidade de seus ecossistemas é crítica e
está bem aquém do que poderia ser.Foram analisadas as condições de dez
objetivos socioecológicos dos oceanos nas zonas econômicas exclusivas de 171 países
e territórios costeiros. Com notas variando de zero a cem, chegou-se a uma
média global de 60. O ineditismo do trabalho foi pela primeira vez considerar
não apenas a preservação dos mares, mas seu uso sustentável. Os dados avaliados
foram desde a capacidade de prover alimentos até a de preservar sua
biodiversidade, passando por poluição e uso em turismo. A interpretação é
quanto menor a nota, menos o país está sendo capaz de aproveitar os benefícios
dos oceanos ou isso está sendo feito de um modo insustentável.O Brasil ficou
bem na média, com 62 pontos, atingindo a 35ª colocação. Serra Leoa, em último,
teve nota 36. A mais bem colocada foi a Ilha Jarvis (território dependente dos
Estados Unidos no Pacífico), com 86 pontos, mas o local é desabitado, assim
como os Territórios Desabitados dos EUA no Pacífico, que aparecem em segundo
lugar, e a Ilha Clipperton, em terceiro. Só em quarto lugar, com iguais 73
pontos, aparecem as primeiras nações propriamente ditas – Ilhas Seychelles e
Alemanha.Assim como ocorre em outros indicadores globais, há uma diferença
clara entre os países desenvolvidos, com melhores notas, e os países em
desenvolvimento, com as piores. Países africanos ocupam os dez últimos lugares.
“Sem dúvida nenhuma, os humanos
têm impactos substancialmente negativos sobre o oceano, e as pontuações são
negativamente correlacionadas com as populações costeiras”, escrevem os autores
na revista Nature, que traz um artigo nesta semana mostrando a nova metodologia
e os resultados.O trabalho mostrou que entre os tópicos avaliados, a capacidade
de prover alimentos é uma das mais críticas, refletindo o colapso dos estoques
pesqueiros que já há alguns anos é denunciado pela comunidade científica. A
nota média foi 24. Abaixo dele, só ficou o turismo – com nota 10 –, mas os
próprios autores admitem que o dado pode não refletir totalmente a situação dos
países. O indicador foi mais complicado de trabalhar por não existirem muitas
bases de dados globais com informações sobre turismo.“O que esses dados mostram
é que há muito espaço para melhorar. E a vantagem é que agora o indicador será
calculado todo ano, o que vai permitir que saibamos muito rapidamente se as
ações humanas estão melhorando ou piorando as condições desses objetivos”,
explica a bióloga brasileira Cristiane Elfes, que colaborou com o estudo no
Centro Nacional de Análise Ecológica e Síntese da Universidade da Califórnia,
que liderou o trabalho.A ideia, diz ela, é a partir de agora aplicar a metodologia
em escala regionais para conhecer melhor os indicadores de cada País e orientar
ações mais específicas para melhorá-los. Cristiane está liderando essa
iniciativa já para o Brasil, e a expectativa é que os dados sejam divulgados
até o final do ano.
Estoque de
carbono. No País, os indicadores variaram de
zero (para o turismo) a 93 (armazenamento de carbono). O resultado ruim pode
significar que o Brasil ainda não tem aproveitado bem esse potencial turístico
ou, quando o faz, é de modo insustentável. Já o dado positivo lança um alerta
para o futuro. É a análise de Guilherme Dutra, da Conservação Internacional,
uma das ONGs que coordenou o projeto.
“Essa capacidade de armazenar
carbono se deve particularmente aos enormes manguezais e gramas marinhas presentes
na costa brasileira. Eles são capazes de guardar até dez vezes mais carbono que
as florestas”, explica. “O temor é que os manguezais estão ameaçados pela
mudança do Cógido Florestal”, alerta. Ele se refere à modificação que permite o
uso de até 35% nas áreas remanescentes de manguezais nos Estados, prevista na
medida provisória editada pela presidente Dilma Rousseff.
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,saude-dos-oceanos-esta-critica,917047,0.htm
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