Aquecimento global
Descobridor do buraco na camada de ozônio diz que eventos climáticos extremos são causados pelo homem
Ganhador do prêmio Nobel
de Química em 1995, o mexicano Mario Molina propõe que aquecimento
global seja combatido com tratado semelhante ao que combateu o uso de
gás CFC nos anos 80
O cientista Mario J. Molina, que recebeu o prêmio Nobel em 1995
(Reprodução)
Seca nos EUA, nevascas intensas na Europa, enchentes na Austrália.
Segundo o cientista Mario J. Molina, que recebeu o prêmio Nobel de
Química em 1995, junto com Paul Crutzen e Sherwood Rowland, por seu
papel na identificação do buraco na camada de ozônio, afirmou que
existem evidências crescentes de que esses e outros eventos climáticos
atípicos dos últimos anos estejam sendo provocados pela atividade humana
e pelo aquecimento global.
"As pessoas podem não estar a par das importantes mudanças que
ocorreram no entendimento cientifico dos eventos climáticos que estão no
noticiário. Eles agora têm uma ligação mais clara com atividades
humanas como a liberação de monóxido de carbono que ocorre durante a
queima de carvão e de outros combustíveis fósseis", disse Molina. As
declarações foram feitas em discurso durante o 244° encontro da American
Chemical Society, que reúne nesta semana 14.000 cientistas na
Filadélfia (EUA).
Molina, que desempenhou um papel fundamental na identificação do papel
do composto CFC (clorofluorocarbono) na redução da camada de ozônio,
disse que a luta para alertar o público e conscientizar a indústria
sobre os riscos do aquecimento global é muito mais difícil do que a
travada para salvar a camada de ozônio.
"As mudanças climáticas são um tema bem mais amplo. Combustíveis
fósseis, que são o centro do problema, são muito importantes para a
economia, e afetam muitas outras atividades. Isso faz com que as
mudanças climáticas sejam muito mais difíceis de lidar que a questão do
ozônio", disse.
Descrédito inicial — Em 1974, Molina e seu colega F.
Sherwood Rowland alertaram a comunidade científica de que as substâncias
conhecidas como CFC, presentes em aerossóis e em outros produtos,
tinham o poder de destruir a camada de ozônio, que funciona como um
"escudo protetor" na atmosfera, bloqueando raios solares ultravioletas
potencialmente perigosos.
Os alertas inicialmente foram recebidos com desdém pelas indústrias que
produziam o composto. Empresas como a DuPont afirmaram inicialmente que
não havia provas científicas sobre os males provocados pelo CFC, e
também fizeram previsões sombrias sobre os impactos econômicos que o fim
da produção do composto poderia provocar.
Segundo Molina, mesmo que a indústria tenha inicialmente tentado
desacreditar os estudos sobre CFC, o tema era bem menos explosivo que o
aquecimento global, que, em sua opinião, se tornou um tema dominado pela
política e por posições polarizadoras. Apesar dessas diferenças, o
cientista propõe que o problema seja enfrentado com um acordo
internacional semelhante ao que regulamentou a produção do CFC, que
ficou conhecido como
Protocolo de Montreal.
Saiba mais
PROTOCOLO DE MONTREAL
Em 1987, entrou em vigor o Protocolo de Montreal, que estabeleceu
metas para a substituição e eventual eliminação do CFC e de outras
substâncias que afetam a camada de ozônio. Considerado um dos tratados
internacionais mais bem sucedidos da história, foi ratificado por 197
países.
"O novo acordo deve estabelecer um preço para a emissão de gases do
efeito estufa, algo que fará com que seja economicamente mais favorável
para os países fazerem a coisa certa. O custo para a sociedade persistir
nisso será menor do que o custo dos danos climáticos caso a sociedade
não faça nada”.
Não há certeza absoluta — Molina disse que mesmo que
não exista "certeza absoluta" de que o aquecimento global está causando
eventos climáticos extremos, os efeitos de tempestades, secas e outros
eventos pode ser "benéficos" para fazer com que o público se
conscientize sobre o aquecimento global e a necessidade de se fazer
algo.
"É importante que as pessoas estejam fazendo mais do que só escutando
sobre o aquecimento global. Elas talvez estejam sentido, sofrendo o
impacto da alta nos preços dos alimentos, tendo uma ideia de como pode
ser o dia a dia no futuro se a sociedade não tomar alguma providência",
disse Molina.
O cientista também afirmou que não é certo o que vai acontecer com a
Terra caso nada seja feito para reduzir ou deter as mudanças climáticas.
"Mas não há dúvida de que o risco é enorme, e que nós podemos ter
algumas consequências devastadoras, especialmente para alguns extratos
da sociedade. Não é muito provável, mas existe alguma possibilidade de
que aconteçam catástrofes."